sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Três Por Quatro

Eu vivo num meio termo,
Em cima do muro,
Numa ponte
Entre Realidade e a Utopia

Entre o Ser e o Querer
Passei perto do Parecer
Me sujei na lama do Mostrar

Cai num poço de Dúvida
Sem previsão de saída
Sem saber o que é Estar

Sai com vida do Viver
Não sei se vivo no Morrer
Pois tantas vezes
Que por lá passei
Em nenhuma delas encontrei
Saber maior do que o Saber

Numa confusão
Num cubículo
É assim que sobrevivo
Num mundo de maluco
Onde só ouço cucos
Calendários
Horários
Trabalhos

Terei que decidir
Descer ou Subir?
Porque ora acordo
Mas prefiro Dormir.

Desejo

O que eu quero é rima barata
Sem nenhum luxo
Sem forma
O que eu quero é o pedaço de um papel de pão
Rabiscado com um lápis
Cheirando a ovo
Tirado de um bolso
Amassado
Amarrotado

O que eu quero é o amor mais sacana
Que me diga rimas mal feitas antes da cama
O que eu quero não tenho
Eu quero o cheiro e o suor
A flor de cemitério entre os cabelos
Quero amor boêmio
O papel!
O papel!
Nada de rosas e poesia
Eu quero os braços na cintura
Me enlaçando com  força e vontade

O amor
Eu quero o amor
A paixão!
Se ficar o bicho pega
Se correr...
Não vai correr!

A Fada

Como uma fada sensual embalada pelo ritmo do vento, ela nascia
Suas asas sangravam enquanto ela lavava minhas vestes de lágrima
Flutuava seu corpo sobre a minha cabeça
Gritavam as aves da noite

Como uma bruxa sensual ela vinha
Não embalada mais, mas fazia de seu próprio ritmo a tempestade
Efusiva, cantava ao meu ouvido
As notas obscuras que saiam do pecado
Gritavam as aves da noite

Como um canivete a rasgar-me o pulso, sentia leve o fado de seu corpo
Era como pisar em cacos e ter letargia
Como uma bruxa, minha fada crescia
Me sufocava de agonia
E morríamos antes que se tornasse dia

Bordel Sujo

Tremem as garrafas após o primeiro gole
Dança a visão dos embriagados ao tilintar dos vidros
Amém! Amém ao pecado de viver
Amém! Amém à dor que nos fez beber

Recendem os aromas de suor no ar
Respiro o doce odor do mofo d’um bar
Entre as pernas de uma rapariga de cabaré
Estranho e sem cor, o céu não tem cheiro

Sic! Grita e soluça Barnabé
Geme a noite sobre sua perna
Escura, ela cavalga diante dos ébrios

Tremem os vidros na vibração do vinho
Torturada, minha cabeça gira
Tudo é dança, tudo é dança
Tudo dança

Dormirdes vós, alcoólatras, que já acabou o vinho!
Dormirdes e acordeis amanhã para tecer

Olhos

Olhos negros de cor mofina
Tua cor salgada me ilumina
Me perco neste escuro
Me curo
Dentro desta retina

Olhos negros, que fundo me olham
Sem saber o que é olhar
Inocentes, não choram
A dor do amar

Olhos negros, olhos de menina
Me veja diante do que pode
Me amarra, me acode
Mais uma vez em tua retina

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Cabe a Nós

É preciso que um dia a gente seja mais do que já pensou ser
É preciso que se cobre o quanto se deve cobrar
O quanto se merece

É preciso que renunciemos um prazer
Que acatemos uma dor
Já que toda certeza que temos é a da mudança,
Que mudemos!
Mudemos sempre
Sempre além do que convencionamos superação

É preciso que se crie coragem para dizer o que se pensa
É preciso que se crie coragem para ver razão no que se pensa
É preciso coragem pra pensar

É preciso ir em frente...
Não. É preciso coragem para voltar atrás
E não se preocupe se faltar coragem
Se faltar o preço
Se não agüentar a dor
Se não pensar...
Sempre nos haverá tempo para Errar de novo.

Borboleta

Essa vontade de transcender é meu mal constante,
Que corroe até meu último pensamento
Me fazendo despencar num abismo duvidoso,
Sem previsão de luz

É esse desejo que me faz trocar de pele
E permanecer com esta em terra ou água
Até que venha outro turbilhão de desejos
E arranque-a de mim, impiedosa e dolorosamente

É vontade de perigo esse desejo de transcender
É anseio de correr riscos ,de errar antes de acertar
É contra-conformismo minha vontade de abalrroar Deus

É frenesi em meu seio esta fome súbita de borrar o mundo,
de manchar as escrituras.
De enxergar o que não se permite ver e ter olhos voltados para dentro e para Além.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Santa Ceia

Embebeste teu pão em saliva
Em vão devoraste a matéria viva
Gozaste do prazer da gula
Embora a pecadora não seja como pura

Pagaste pouco pelo teu pão, corpo vivo
Bebeste pouco do que te foi oferecido
E tomaste tudo do que estava escondido

Amém! Que assim seja
Se assim te apraze
Sobeja! Me lave

Lágrimas São As Mesmas

Tocou-me a retina o que chamam sentimento
Quase choro
Antes não me atento
Do gosto parecido com cloro

Se ao chão cair este soro
É quantidade pequena
Para a vida contribuo pouco
Vivo, não por valer à pena

Para a dor do desgraçado:
Psicologia
Ora, também sente-se dor na orgia

Um opiômano tem a cura
Para tão grosso fardo:
Tornar-se matéria fria

Meu Enfado Técnico

Estou cansada. Um enfado incompreensível. Cansada de tudo. De tudo o que é medida, métrica, sintaxe.
O enfado é característica humana, como a preocupação. Preocupação? Não. Medo!
Medo do meu público, das críticas. Mas eu nem mesmo tenho público. Aí entra outras características prosaicas dos homens: ambição e vaidade.
Deixo de escrever o que chamo inconsciente. Forço uma cópia...
Maldita perfeição!
Tento com as minhas palavras uma dialética platônica. Esqueço que o real, o ideal, a verdade, não são necessariamente lógicos. Esqueço de viver (de me ver) em cada linha...
Decido que não vou continuar. Assim como a morte de um animal também é vida, decido matar este ser. Vou regredir-progredir.
Vou decompor a matéria, as regras, as medidas, a sintaxe.
Misticamente vou-me reenergizar. Vou escrever. De uma forma tão simples como incisiva. Tão minha quanto viva.

Unívoco

Manhãs não há mais que me prendam,
Açoites enferrujados em meu Eu
Saio a correr em meu corpo
Com dedos de ateu

Sem medo da morte, do pecado, do castigo
Gozo diante de Deus
Faço palavras que não existem
Para outros ateus

Não espere em meu corpo- este humilde papel
- uma palavra divina
Gozo, me entrego,
Bebo adrenalina

Venha!
Não faz mais sentido
Seja com ele, seja comigo
Não há mais manhãs
Mas há Amanhãs
Ele escreve,
Você lê,
Eu pratico!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Loucos Circulares

Caídos num tempo
Perdidos num mundo
Chamam-nos vagabundos

Num relógio sem rotação
Amor, paixão, álcool e canção
Somos nós, a sós
Ao léu
No céu?

Sem cor, sem flor, sem poema
Sem dor
Num problema
Sem dilemas

Atores, cantores
Brincantes
Pintores
Em noites embriagantes
Sem nome
Somos nós
Somos só a sós


aos meus amigos, que bem se encontram nesta condição, fazendo-a ou não, Gabriel Freitas, Filipe Façanha, Eliaquim Maia.

Gosta-se

Pára
Cala
Me ignora
Eu te amo

Pára
Cala
Me esnoba
Que eu te amo

Pára
Vira
Volta
Vai embora
Que agora não serve mais

Apartamento

Será que esse concreto todo tem razão?
Será que faz sentido essa suspensão?
E esse chaveiro pendurado na porta
Serve pra quê?

Não é normal
Eu
Animal
Entre quinze paredes
Transitando num pedaço de mundo
Vivendo num tubo de ensaio

Lentidão Específica

Hoje o dia acordou estranho
Estava tudo tomado de uma lentidão incomum
Vi carros andando em velocidades de anciãos
Vi pessoas andarem quase que moribundas
Corri
Corri
E não avancei mais que um passo

Era tudo lento
Até o Sol incidia diferente
Forte
Mas devagar
Estava um mundo tomado de uma lentidão inexplicável
Estavam todos ao meu redor
Mas eu estava só
Havia em mim um vazio incomensurável
Que impedia que a minha vida seguisse
De novo corri
E de novo não avancei um passo
Eram as imprecisões
Mais precisas no mundo
Do que qualquer movimento

Maquinação

Linda borboleta
Azul
Amarela
Verde
e...

Nem tive tempo de amá-la

         ...

Triste borboleta
Já não existe mais
Bateu de frente...
Com um pára-brisa

Cidadão do Mundo

Pés no chão sem asfalto
Casa de barro
Cor de sangue e suor
Anêmico, decadente
Faminto e desnutrido,
Sou cidadão do Mundo
Imundo

Sem nome de papel passado
João, José, Maria...
Pão passado (?)
Quem me dera...
Um futuro (?)
Deus quem sabe

Só fazendo dessa terra
Meu almoço, meu jantar

Panela também falta
Menos peso prêsse lombo
Que de fome vai quase parando

Cidadão do Mundo
Mundo de fronteira
Porque sertão não tem barreira

Meus cascos no chão
Meu saco nas costas
Vou-me embora prôtro mundo

Sem lágrima pra chorar
Deixo aqui a minha gente
Minha música,
Minha história
Que um “home” vai botar num livro
Cheio de letra e de figura
Pra ler numa sala fria e numa cadeira macia...
Só não entendo, meu Deus,
Por que pra eles,
Minha Dor é cultura

O Mundo

O que são estas críticas infames?
Quem ousa julgar?

Já basta querer, já basta ver e aceitar o outro
Aceitar a maneira de pensar,
Repensar e compreender
Que qualquer ser humano já pensou em correr nu em Copacabana

O desejo de ser Deus,
O desejo de criar
Quem vai ousar?

Tudo deveria ser aceitável e levado de boa fé (!?)

Num mundo onde tem-se de ser Louco para não enlouquecer
Num mundo onde é normal engolir sapos e baratas
Para se manter de barriga cheia
Onde homens trabalham para máquinas
Onde o pão que o Diabo amassou é o alimento mais desejado
Por aqueles que nem têm pão